domingo, 19 de maio de 2013

Confissões de Maio


Já tentei suícidio por duas vezes. Imagine o que é para uma criança com pouco mais de 7 anos dormir com uma faca debaixo do colchão e esperar um 'vacilo' dos pais para tentar se machucar?? - Meus pais nunca se importaram e creio que nunca achariam a faca se não tivesse tirado de lá. 
Sempre ouvi palavras depreciativas vindas de minha progenitora do tipo: "como você é feia!", "você é a filha mais feia que eu tenho.", "você é muito gorda." e outras deste tipo que acabam com a auto estima de qualquer adolescente! E este bullying partindo de minha mãe durou até desenvolver anoréxia nervosa, imaginem, uma pessoa de saúde plena, com um corpo lindo de repente se tornar uma caveira ambulante?! Por causa deste abandono sem causa poderia ter me envolvido com drogas ou más companhias. Eu poderia ter sido uma adolescente revoltada, descrente de uma gama de valores que a sociedade faz questão de esfregar em nossas caras. Mas isso não seria motivo suficiente. Eu sabia, que haveria uma hora para entender tudo aquilo. E eu sabia que eu teria uma missão, não seria a filha perfeita para ganhar uma estrelinha ou ser motivo de orgulho como foram meus irmãos. Eu seria mais que isso e entenderia quando minha hora chegasse.
A ultima tentativa de suicídio foi em meados de 2010, depois de uma forte discurssão com a mesma, peguei o primeiro ônibus e fui até um viaduto que corta uma das principais rodovias (BR324) de Salvador. Ali, durante a viagem antes de chegar no tal viaduto, passou um filme em minha cabeça. E por íncrivel que pareça, encontrei uma pessoa dentro do ônibus onde eu estava que me viu tão abalada e resolveu me seguir. Quando chegamos na estação próximo a este viaduto, esta pessoa começou a conversar comigo, sentou-me em um dos bancos que existia na estação e perguntou o que estava ocorrendo. Contei o fato, ela em seguida segurou minhas mãos e falou-me: ' você tem muito o que fazer por aqui ainda, não se importe se sua mãe te ama ou não. Ninguém é obrigado a amar ninguém, mas somos obrigados a amarmos a nós mesmos.' - E eu fui me acalmando, aos poucos e desistindo da ideia do suícidio. Aquilo não iria levar-me a nada mesmo, no máximo, quem amava-me iria acostumar-se com a ideia de não ter-me por perto e pronto. Iria materializar-me em uma grande saudade e numa existência sem um porquê. Despedi-me daquela pessoa, com certeza não era religiosa pois em momento nenhum falou-me de igrejas ou curas para aquilo que estava sentindo. Passei a noite na casa de uma amiga.
Mais próximo dos 27 anos de idade, revejo várias coisas que aconteceram comigo antes desta idade. Antes dos 25 anos, passei a minha vida inteira tentando agradar aos outros. Eu tinha os meus sonhos,queria terminar meus estudos cedo, queria viajar, queria um amor não egoísta, ajudar outras pessoas, conhecer outras culturas, estar perto de outras pessoas e não criar raízes em outros solos que não fossem brasileiros. Viver em escalas, de chegadas e partidas, a certeza de um hoje e um amanhã quem sabe. Mas, fui esquecendo disso, fui apagando quem eu era para ser alguém que agradasse. Hoje, volto a ser quem eu era. Quem eu sonhava ser aos 18 anos, uma pessoa livre, sem amarras, contratos, sem pactos de sangue, sem compromissos... O amor não me acorrenta, me acompanha. As companhias não me têem, me ganham naquele instante e elas que aproveitem. Ao mesmo tempo em que pareço dominada, posso estar a fazer planos para um novo e desafiante vôo. Não reconheço-me em fotografias passadas, em amores acabados, em histórias não terminadas. Não reconheço-me no ontem, vivo o que tenho hoje e deixo o depois pra o quem sabe.
A vida é um risco eminente, se não estamos dispostos a correr este risco não vale a pena estarmos vivos...

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